O QUE ESCREVERAM SOBRE MEUS LIVROS

Do Diário do Nordeste:

História - Nos bastidores do Planalto: o jornalista Frota Neto reconstitui episódios da redemocratização do Brasil durante o governo Sarney.  A história recente do Brasil ainda tem capítulos que não receberam o devido tratamento historiográfico. O jornalista Frota Neto se debruça sobre um deles em seu novo livro “As Batalhas na Guerra da Transição Brasileira”. A obra trata da história (e dos bastidores) da redemocratização do Brasil de 1985 a 1990. O lançamento acontece hoje (10.12.2014) na Biblioteca do Senado Federal. Em sua reportagem histórica, Frota Neto recupera os embates e os conflitos enfrentados pelo Governo José Sarney, para remoção do então chamado “entulho autoritário”. Sarney concluiu seu mandato presidencial com o Brasil tendo realizado eleições diretas e livres, e com o país sobre a égide de uma nova Constituição. A perspectiva do autor é privilegiada, já que o jornalista foi Secretário de Imprensa da Presidência da República no Governo Sarney.

O livro, de 480 páginas, é dividido em cinco tomos, que cobrem os momentos importantes da história recente do País. A narrativa do jornalista começa com os meses que antecederam a posse de Sarney – o político maranhense era vice de Tancredo Neves, que acabou falecendo antes de tomar posse; recapitula as principais forças políticas e personagens que atuaram neste processo, da formação do PT ao ex-deputado Ulysses Guimarães; chegando ao front  econômico, rememorando tanto os planos lançados pelo Governo Sarney como suas articulações internacionais para colocar o País nos eixos necessários à Democracia.

Batalhas:
“O Presidente da República não manda tanto quanto ele pensa, antes de ele assumir o cargo, que ele vai mandar”, escreve Frota Neto no texto de abertura do livro. “Há janelas de oportunidade nas quais  grandes homens e mulheres podem controlar eventos. Mas [– e é para ninguém -, ] esses momentos não duram para sempre”, ressalta. O autor destaca , assim,  que o personagem central desta história estava diante de um verdadeiro desafio. Transformações drásticas eram necessárias, o tempo para fazê-las era mínimo e haviam forças interessadas que elas não acontecessem – ou que tomassem rumos distintos daqueles pensados pelo presidente. “O Presidente José Sarney entra para a História do Brasil com uma marca:  como o presidente que conseguiu determinar  o destino de um governo vencendo conjurações, conspirações e neutralizando alianças que se armaram  para quando,  não conseguindo moldar seu perfil como Presidente, tentaram paralisar, estigmatizar, neutralizar seu governo”, define Frota Neto em seu novo livro. “Foi uma longa e intensa guerra travada em batalhas ora de posições ora de movimentos”, descreve.

Literatura:
A história contada no livro   é beneficiada pelo talento de Frota Neto, que além de jornalista se dedica ao ofício de escritor. Ele é autor de 17 livros, que cobrem áreas variadas, englobando estudos na área de administração e comunicação;  ensaios sobre o poder político, o cinema e a literatura. O escritor também mantém uma produção literária consistente. Desta, se destacam  livros como “Era Quase Sempre Sábado em Macambira” e “Raízes na Amazônia”.  (Do Diário do Nordeste - 10.12.2014; reproduzido no Ceará em Brasília, da Casa do Ceará - em 14.12.2014).

No lançamento do livro AS BATALHAS NA GUERRA DA TRANSIÇÃO BRASILEIRA:

Ao discursar ontem (10.12.2014) na abertura de exposição sobre sua trajetória política, o senador José Sarney (PMDB-AP), que sai da vida pública ao final desta legislatura, relembrou momentos difíceis que enfrentou na Presidência da República (1985–1990) para fazer a abertura política após a ditatura militar (1964–1985). Sarney disse ter sido “um presidente escolhido para ser deposto, como muitos na história do Brasil”, mas sobreviveu, assim como o ex-presidente Juscelino Kubitschek. — Muitos que assumiram para serem depostos conseguiram sobreviver, como Juscelino, que assumiu para ser deposto. E ele imitou dom João VI: trouxe o cofre para Brasília e foi se tornando um dos presidentes mais estimados da história do país — afirmou.
O senador considera que sua lição para a transição democrática foi “o espírito de tolerância, de conciliação, de humildade, de nunca querer passar por cima de ninguém”. Para Sarney, se não fosse o Plano Cruzado, o país não teria feito a Constituinte, que resultou na Constituição de 1988. Ele afirmou ainda que se fez fraco para que o povo e o país se fizessem fortes.

Sarney disse que não gostava de despedidas e que preferia sair do Congresso da mesma forma como entrou, em 1955, “anonimamente”. O senador ponderou que ele é quem deveria fazer uma homenagem aos servidores do Senado, que são “os melhores quadros” da administração pública brasileira. — Me falaram que seria uma coisa simples, mas fui surpreendido com esta belíssima exposição. Queria agradecer a todos os servidores. A gratidão é a memória do coração.

A exposição José Sarney: o homem, o político, o escritor, da Biblioteca do Senado, homenageia por meio de fotos, livros e textos as seis décadas de vida pública e celebra os 84 anos de idade do político maranhense. De acordo com a coordenadora da exposição e da Biblioteca, Helena Celeste, a ideia nasceu de forma “espontânea e singela” quando o senador anunciou que deixaria a vida pública. Ao abrir a exposição, Helena lembrou que Sarney, como presidente do Senado, foi responsável pela criação do Conselho Editorial e do Coral, pela participação da instituição em feiras do livro, pela aquisição de obras raras e pela idealização do acervo digital — que hoje conta com mais de 1 milhão de acessos na internet. — Esta exposição é uma forma de homenagem e de gratidão a Sarney — afirmou.

Participaram da cerimônia os senadores Valdir Raupp (PMDB-RO), João Alberto Souza (PMDB-MA), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Ana Amélia (PP-RS), Garibaldi Alves Filho (PMDB- RN), e o deputado Sarney Filho (PV-MA), além de ministros e autoridades. A exposição está dividida em três ambientes: a vida pessoal, a vida política e a vida literária. A mostra está aberta ao público das 8h às 18h e vai até o dia 25.

Livro: Na mesma solenidade foi lançado o livro As Batalhas na Guerra da Transição Brasileira. De autoria do jornalista Frota Neto, a obra reconstitui o governo Sarney entre 1985 e 1990, quando o país saía do governo militar e entrava na democracia. De acordo com Frota Neto, que trabalhou com o então presidente, o livro é “um corte na história”. — É uma análise do papel do presidente e sua relação com o poder. Em todas as suas decisões, um presidente está negociando com a história — disse o jornalista.



Durante a homenagem, Sarney (D) conversa com o jornalista Frota Neto, autor do livro sobre o senador lançado no evento Foto: Jane de Araújo
Sarney: “Fui um presidente escolhido para ser deposto”
Ao participar da abertura de exposição e lançamento de livro em sua homenagem, o senador, que se despede da vida pública, afirma ter deixado como lição seu “espírito de tolerância e conciliação”
Vídeo sobre a homenagem: http://bit.ly/SarneyExpo (Jornal do Senado – 11.12.2014 - Reprodução autorizada mediante citação do Jornal do Senado).

 

De José Cândido de Carvalho, membro da Academia Brasileira de Letras, autor de O Coronel e o Lobisomem:

Não é sempre que descubro um livro tão bom como esse Era Quase sempre Sábado em Macambira, de Frota Neto, nascido em Ipueiras, tranqüila cidade que vive num dos cotovelos do velho Ceará de Raquel de Queiroz. Cá entre nós, não concordo com o ilustre prefaciador, o sempre admirável José Aparecido de Oliveira, quando diz que Frota Neto percorre os mesmos caminhos de Guimarães Rosa, Mário Palmério e Bernardo Élis. Ao contrário, Frota Neto soube construir seu próprio caminho com palavras de pedra, de sonho e vento. De repente, com um jeitão do melhor Marcel Proust, aparece a cidade de Macambira recuperada do tempo perdido. Não é uma cidade. É uma mágica, uma coisa viva, falando de seus antigamente, do velho circo de cavalinhos, da Pensão do Quincas, de casarões mortos e dos meninos trepados em muros desexistidos. E tudo isso sustentado por um escrever muito pessoal, moderno como ele só, sem magrezas e sem gorduras. Enfeitiçado, passando do real para o mágico e do mágico para o real. Jamais esquecerei, por exemplo, a forte presença do Major Jagon, dono de céus, terra, gentes e votos de Macambira, caladão, astuto, raposa municipal que seria uma das maiores inventorias da moderna ficção brasileira deste fim de século se Frota Neto quisesse gastar mais tinta e papel com essa inigualável figura das velhas tardes e noites de Macambira, cidade que vai existir, de agora para a frente, obrigatoriamente, em todas as geografias do Brasil – não apenas um ponto no mapa, mas um calo de sangue no coração da gente”. (em O Fluminense – 19.06.1988).

De Prosa & Verso - O Globo:

“Lançamentos – Morte em Brasília - O jornalista e escritor Frota Neto, que atualmente mora na França, por meio de fragmentos, citações, relatos e lembranças, vai montando o quebra-cabeças da morte de Santiago, também jornalista” (em O Globo - 19.10.2002).

De Osvaldo Peralva, autor de O Retrato:

A primeira questão suscitada pela leitura deste livro de Frota Neto é sobre o gênero literário em que possa ser enquadrado. O autor mesmo se recusa a classificá-lo. Limita-se a informar, no Prólogo, que se trata de uma pequena estória “crônica de uma memória”, de um pequeno personagem, numa pequena paisagem, beirando ao Nada. Memória e crônica de Macambira, e um dos seus – ambos derrotados, mas não vencidos, conforme acentua.  Esse pequeno personagem, após uma série de aventuras, igualmente pequenas e superficiais, através dos anos, regressa frustrado à sua cidadezinha, onde se sente um estranho, o Estranho, e onde a vida local parece haver fenecido. Sem reconhecer as pessoas e sem ser por elas reconhecido,  observa: “Pelas ruas, a meninada  e todas as gentes eram apenas passeios de fantasmas.  Menos patético, não deixa de lembrar a cidade morta de Comala que o imortal Juan Rulfo, falecido o ano passado nos descreve em “Pedro Páramo”.   Frota Neto não apela para recursos propriamente literários. Sua narrativa é solta, sem rebuscamentos. Só às vezes se permite um efeito de contraste, como este, aliás, bem expressivo: “Misturou-se com o conjunto de signos da Ordem Terceira de São Vicente dos Pobres formada pelos ricos de Macambira...” Ou então:  Tinha também seu rio, quase sempre seco, como todos os rios do sertão. E sua ponte, mais de prestígio que de serventia” Ou ainda  uma imagem erótica, provocada pelas serras: “Seu busto  oferecia  à coqueteria do vento os requebros que tomavam formas e criavam espirais, que refluíam no levantar dos seus  cabelos longos e lodosos  dos babaçuais”  Imagem que nos conduz a lembrança  para uma cena de “Rain” (A Chuva), de Somerset Maugham , quando o pobre missionário Davidson, apaixonado pela prostituta, tinha visões oníricas em que o contorno do pico de uma montanha assemelhava-se a um seio feminino. Os russos têm, como cultivo da ficção as mesmas formas que nós,  o romance (Roman), a novela (póvest´ ou novella) e o conto (skazka). E, ainda, o relato (rasskaz), menos comprometido com exigências da ficção do que outros gêneros. Dostoievsky, por exemplo, tem um livro intitulado “Póvesti i Rasskázy (Novelas e Relatos). Creio que nesta última categoria se poderia qualificar o trabalho de Frota Neto. Quanto às semelhanças de cenas apontadas entre as de seu livro e as dos escritores citados, não sei se são fruto de reminiscências, até porque ignoro a intimidade dele com esses autores. Ou mera coincidência, mais provável. (na Folha de S. Paulo – Folha Ilustrada  - 27.09.1987).

Do Correio Braziliense:

(...) Este é o seu quinto livro e o segundo de ficção. O primeiro foi a coletânea de Contos Fantoches e Ingênuos. Era Quase Sempre Sábado em Macambira poderia ser definido como uma viagem proustiana em busca do tempo perdido, empreendida por um personagem, projetando uma relação de dupla face do individuo consigo mesmo e do individuo com o mundo exterior. O Brasil dos últimos 30 anos passou por um processo de transformações muito violento. E o personagem da novela de Frota Neto procura juntar os cacos de sua identidade neste universo de mudanças vertiginosas. (...) A narrativa de Frota Neto tem dois focos principais: a interrogação da subjetividade do personagem consigo mesmo e a busca do tempo perdido de uma cidadezinha no interior – Macambira – onde se encontram os personagens de qualquer cidade do interior: o doido, a prostituta, o dono da cidade. (...) Um detalhe: o prefácio é do governador José Aparecido de Oliveira. Mas Frota neto explica que isso nada tem a ver com as relações de poder. Quando ainda era Secretário de Cultura de Minas Gerais, José Aparecido elogiou muito um prefácio que Frota Neto havia feito para um livro do jornalista Lustosa da Costa. Os originais de Era Quase sempre sábado em Macambira foram submetidos por Frota ao crivo de José Aparecido, e este fez questão de fazer o prefácio do livro. (no Correio Braziliense – secção Livro – 13.08.1987)

De Ezio Pires, crítico literário:

“... fugindo da técnica tradicional de narrar, não apela nem ordena para que a vida dos seus tipos aconteça como acontece o tempo. Este é, sem dúvida, o bom sinal da fisionomia da ficção de Frota Neto. (...) Os pedaços isolados da narrativa formam uma das melhores coisas que li ultimamente. Seus tipos se sentem livres, como construtores de solidão. Também não revelam nenhuma pressa preocupada do tipo de quem corre atrás do tempo que foge. Estão inteiros nos flashes despedaçados, como donos tranqüilos da memória que constrói o bolo narrativo. Essa qualidade ajuda a detectar um ligeiro enfraquecimento quando a narrativa tem sinais designativos de uma realidade pouco ficcional, mas mesmo assim, de tom memorial indicativo de um “país barril de pólvora”, que mais crônica (ou quase) do tempo de siglas de UDN, PSD, etc. A densidade psicológica serve como recurso natural da existência dos tipos que nascem, vivem e morrem numa cidade em qualquer ponto do mapa ficcional brasileiro. E esta fisionomia da ficção nos pedaços da narrativa de Frota, pode ser a mesma sem que a gente perceba, da nossa ficção de cada dia. Aquele universo do Major Jagon, fez e faz tempo, mas pode ser iluminado não só pelas luzes de Macambira como também pelas luzes de Brasília. (no Correio Braziliense – Editoria de Cultura - 01.09.1987).


De Luiz Gutemberg, Jornalista e Escritor:

Isso não é uma comparação, mas uma referência para facilitar a compreensão: a pequena e comovente novela Era Quase Sempre Sábado em Macambira é um exercício proustiano de volta ao tempo perdido. (...) esse livro de Frota Neto vai para a estante de experiências emocionantes de brasileiros contemporâneos operando o processo proustiano com originalidade e modernidade, de que o caso mais relevante é a peça Rasga Coração, de Oduvaldo Viana Filho, certamente o principal texto literário brasileiro escrito nos tempos de obscuridade da ditadura militar. (...) Quem dera se fosse possível, ao Nordeste, intelectual e contemplativo, contemporâneo das realidades do momento atual, capaz de sentir dores e prazeres que outros intelectuais sofrem em Nova Iorque, São Paulo, Varsóvia ou Brasília, desvencilhando-se das histórias de crimes e golpes de corrupção com os créditos do algodão e das secas. “A eleição estava próxima e a seca vizinha”. A frase equivale, na contingência nordestina, à badaladas dantescas de “Sempre nunca”, do Inferno da Divina Comédia. A pujança desse pequeno testemunho não está na linguagem poética, nem no ritmo da prosa, mas na verdade sem escamoteação do testemunho, e no sofrimento com que, ao regressar a Macambira, o personagem vive a angústia de que houve um ganho substancial de vida – ao menos, a aquisição do senso crítico - no itinerário realizado a partir do ponto a que estava voltando. (...) Que belo livro. (no semanário O José – 01 /07.08.1987).

De Edmilson Caminha Jr., crítico literário:

 (...)  Do Era Quase sempre sábado em Macambira me falou entusiasmado, o romancista José Cândido de Carvalho, para quem o  livro é  das poucas coisas realmente novas e boas que surgiram, por último, na literatura brasileira.  Conheço o autor há muito tempo, desde 62, 63, quando me iniciei na imprensa em fortaleza. Já naquela época, Frota era um jornalista respeitado, o que o faria, anos depois, correspondente em Genebra da Folha de s. Paulo. Prova do seu texto agradável e expressivo é “Cerco e queda de uma praça forte”, a excelente introdução que escreveu para “Sobral do meu tempo”, de Lustosa da Costa, onde analisa os motivos que teriam levado a decadência o importante município do Ceará. Aí, já demonstra Frota Neto o fascínio que lhe despertam  as pequenas cidades do interior  - seu cotidiano arrastado, as intrigas políticas, os tipos populares. Não admira, pois, tenha sido esse o tema da sua história.  Era quase sempre sábado em Macambira retoma um dos mais vigorosos “leimotivs” da literatura universal: a volta ao passado, o retorno à origem, o tempo perdido que Proust buscava. No Brasil, dele trataram, entre muitos outros, Mário Palmério, em “Vila dos Confins”: José conde, em “Terra de Caruaru”; Oswaldo França Jr., em “No fundo das águas”;  e Anibal Machado, num conto belíssimo, “Viagem aos seios de Duíla”. Sem falar, é claro, nos memorialistas propriamente ditos como José Lins do Rego e Pedro Nava. A idéia é perigosa pela facilidade com que se insinua: ao pretenso escritor,  muitas vezes ocorre depor sobre a própria experiência, a terra natal, a infância modesta mas feliz.  Não tenha ele a verdadeira vocação literária e o livro descamba para a confissão melosa, o saudosismo piegas, de que a literatura brasileira está cheia. Não é, felizmente, o caso de Frota Neto. (...) José Cândido de Carvalho tem toda a razão. Era quase sempre sábado em Macambira  é um belo romance. Certamente que Frota Neto arranjará tempo para escrever outros. Tomara. (na Revista Nacional,  outubro de 1988; no Diário do Povo – 14.09.1988; e em  O Fluminense – 15.10.1988).

De Nilze Costa e Silva, escritora:

O Migrante é o título do mais recente livre do jornalista e escritor Frota Neto. (...) A beleza do contar está no uso da linguagem verbal. Frota Neto se coloca como dono absoluto de sua prosa. Abusa dos verbos no gerúndio, como função expressiva para dar ressonância à sina do migrante, indo e voltando, lembrando e esquecendo, deixando, partindo, amando e sofrendo. Não fincando Raízes, cultura, tradições. (...)  Frota Neto apelida Belizário (personificação de todos os migrantes) de prisioneiro do futuro, o que tenta reencontrar o tempo no lugar passado, que já se foi e não mais existe. Assim, continua a sina do migrante, a cada seca que vem e volta. Fugindo do seu lugar de origem e tentando se reconstruir, inchando as cidades e favelas, dispersando-se da família, perdendo os filhos, prostituindo-se, marginalizando-se.  Afinal, o que importa aos Belizários?  Viver ou saber que está vivendo? Onde está o que deve fazer – e o que deve fazer, se não sabe o que fazer de si? Como agir para interromper esse ciclo, essa eterna e triste partida e conceder-se um tempo de terra prometida, para finalmente ficar, ficando? E como, se estão tão sós? (em O Povo – 31.10.1999).


De Gonçalo Mello Mourão, Embaixador:

(...) É uma delícia o livro. É difícil falar com o autor sobre o livro dele. Mas eu diria que o seu livro Morte em Brasília é um livro cubista, em fundo e forma. Primeiro, a surpresa e o espanto e logo o prazer da sintaxe alquebrada. Cada frase como que cerca por todos os lados o que ela quer dizer e, ao chegar no ponto, diz. Cada uma dá como que uma visão fragmentada de seu conteúdo e, ao final, o leitor constrói, com ela própria, a inteireza de seu próprio conteúdo. Também a história, é contada “cubisticamente”. Você joga um dado, que é a morte de Santiago, e aí começa a contar facetas diferentes do dado jogado mas não, necessariamente, facetas reais e sim possibilidades, o que é da natureza dos lados reais do dado jogado: enquanto não pára o dado, todas as facetas são apenas possibilidades. E o leitor vai rolando com aquelas facetas que vão rolando e cada mulher é uma possibilidade, porque parte do dado, mas não, necessariamente, a parte que ficará à mostra quando o dado parar. E como que num universo paralelo, você joga o dado também do que chama de “Brasília”, multifacetado mas sempre o mesmo. E os dois dados, o de Santiago e as mulheres e o de Brasília, vão rolando juntos, ora se tocando ora não, ora uma face coincidindo com certa face do outro, ora não, até no final os dois param. Mas o jogo não acaba, pois os dois param e mostram suas faces finais mas fica uma indefinição no ar: a indefinição do próprio jogo da vida, que não se joga sozinho mas com outros jogadores. Ou seja, jogados os dados do Santiago, ficam no ar os dados da Cristina. (...). (texto de carta ao autor, com divulgação autorizada pelo Embaixador Gonçalo Mello Mourão - dezembro de 2006).

De Carlos Augusto Viana, Jornalista

(...) Em Terra dos Clones Frota Neto palmilha o território da memória. Sua ficção impõe-se, acima de tudo, por sua grande força descritiva. Nesse caso, a descrição constitui elemento não simplesmente decorativo ou mesmo somente enriquecedor da narrativa; passa a ser, na verdade, um recurso porque o narrador orienta a tessitura de sua trama. Mais ainda: a descrição, estando, de certo modo, atrelada a estados emocionais das personagens ou a representações psicossociais do ambiente, desempenha, na ordenação do discurso narrativo a importância do papel de um personagem: “O Jatobá é um rio de areia que só se enche d´água uma vez, no inverno, e quando enche, de ano em ano. Ele não banha, corta Macambira. Se alguém fizesse dele sua estrada descalço para sentir o cascalho, os calhaus e a areia grossa que sopram quentes ao sol quase permanente – o Jatobá o levará ao Lamarão” (Mariazinha do Poço, página 13). O livro Terra dos Clones reúne oito narrativas que, rompendo com a tirania dos gêneros, oscila entre o conto e a novela. Todos têm em comum o fio condutor da memória, quer sob a ótica da personagem, quer sob a do narrador. A linguagem, talvez por conta disso, reveste-se de um lirismo delicioso, de ritmo leve à semelhança das narrativas oriundas da tradição oral. Desse modo o leitor tem a sensação de que lhe é narrado de viva voz, tamanha a fluidez do texto. (...) As histórias, mesmo com o predomínio dos motivos regionais, não perdem a referência da universalidade, à medida que buscam nas personagens os sentimentos perenes à condição humana. Resultam, antes de tudo, da consciência de um criador que tem intimidade com o seu ofício. (no Diário do Nordeste – 19.04.1995).

De Eleuda de Carvalho, Jornalista:

Como exumar os baús interiores e a história de uma vida, de tantos? Existe uma idade para que o escritor se debruce na janela do passado, a recuperar um rosto, um gesto, as transformações que o tempo imprime nas criaturas e nas suas extensões, a rua, o bairro, a cidade? A memória carece de alongamento, distância. E, em retrospectiva, a lembrança será imagem real do vivido ou mais reinvenção, arestas aparadas, fogueiras extinguidas, serenados ânimos. Viver dói. Reviver, como será? Frota Neto responde a algumas dessas indagações (e faz tantas outras) em seu novo livro, apropriadamente batizado Quase... Jornalista por vocação e profissão, Frota Neto usou da palavra nos modos próprios do seu ofício mas também se espraiou rumo à ficção, ao ensaísmo. E todos estes ingredientes, afora o memorial, em dose alta, estão presentes em Quase... um livro que é quase biografia, quase romance, quase reportagem. (...) Frota Neto não conta tudo, esconde trunfos, matreiro, quanta coisa vai ele saber. Mas indicia, deixa pistas, numa frase o peso da responsabilidade em abrir as cartas de um jogo marcado, a “carregar o passado para a beira do presente”. Musas do tempo de escola, São João, Liceu. O quartinho de rapazes, apartamento-república da rua Senador Pompeu, os amigos curtindo fim de noitadas, o Gervásio de Paula num colchão pela sala, e os heroísmos. “Alguns poucos marcam a cidade, seus hábitos, seus modos, suas feições, modelam seus talhes muito mais que muita gente de cargo eleitoral, de poder e posto, grau ou dinheiro, ou com mandato”. Nada mais vero. Entre um e outro olhar sobre o abismo, meandros do poder, sempre, e o ano emblemático, 1964. Frota Neto foi certeiro: “Os militares ocuparam a cena política, mas os civis deram a eles script, ofereceram palco e a passividade da platéia”. (em O Povo, da Editoria de Vida & Arte – 02 de fevereiro de 2000).

Do Diário do Nordeste:

“Das recordações que eu coloquei no livro as mais felizes foram aquelas relacionadas à minha adolescência, que foi uma fase muito bonita de minha vida. Todo pai que se preza deveria mandar o filho pelo menos uma vez para o interior, para que ele visse como são a infância e a adolescência por lá. Mas a mais triste, com certeza, não foi nenhuma recordação em especial, mas o fato de ter concluído o livro. Porque eu falei de um tempo que era muito bonito, não que foi melhor ou pior que o atual, mas onde havia esperança, perspectivas. E o livro fala disso, que valeram a pena os amigos”. (texto de entrevista ao Diário do Nordeste – 03.02.2000).

De Delano Rio, Jornalista

(...) O misticismo que se faz presente em Raízes na Amazônia revela um Frota Neto amante da literatura fantástica. (...) Esta ligação entre o migrante e o universo do fantástico promete ganhar uma interpretação mais detalhada num próximo trabalho literário (...) A inspiração para esse romance vem de longe, da leitura, ainda na juventude, do livro “Os Bruddenbrooks”, do autor alemão Thomas Mann ((1875-1955). No romance de Mann, o leitor se depara com uma longa saga, que perpasse três gerações de uma família (...) Pode ser que frota neto não venha a ser igual a Thomas Mann, entretanto não se poderá negar-lhe o título de seguidor. No livro o cearense também contará a história de uma família. No entanto, diferente da alemã, a saga se estenderá por séculos, ao invés de décadas. (no Diário do Nordeste – Caderno 3 – Literatura - 23.01.2007).

De Marcondes Rosa de Sousa, Professor  da área de Letras da UFC e da UECe:  

Quase é advérbio por trás do qual se escondem o rascunho, o inconcluso, o inatingido. Quase é o título de obra de 518 páginas do escritor-jornalista Frota Neto, lançado dias atrás, em calorosa noite no Náutico, em mais de quatro horas de autógrafos, abraços, e reminiscências de todos os lados. Autobiografia, crônica sentimental, história ou romance? Quase é cada um desses gêneros, quase. É autobiografia onde o autor se transpõe do texto para o entretexto. Romance em primeira pessoa, em que o narrador é câmera subjetiva a extrair, de ambiências, fatos e personagens, o caleidoscópio de nosso imaginário. Roteiro de um filme onde incontáveis figurantes são feitos protagonistas, num romper da dualidade “bandido / mocinho”. Nele, Frota Neto é repórter a registrar fatos de sua convivência, entre os anos 50 e 80. Na seleção do não-perecível, assiste-lhe o feeling do cronista da história. E, ao mapear ambientes, atitudes e almas – captados por câmera em close up – faz-se cineasta sensível na seqüência dos instantâneos em contextos significativos mais amplos e verticais: do “carneiro do Miraugusto” e dos doidos (?) de Ipueiras às cenas nas prisões, no jornalismo e na história do Ceará, do Brasil e do mundo. O menino que, “nas Ipueiras”, brincava de repórter, afeito à história e às estórias, revela-se de corpo inteiro, na linguagem solta e aprazível, impregnada do jeito de nossa gente. Quase, assim, não é nostálgico retorno a um congelado passado. É, ao invés, o ontem revisitado, sob o agudo olhar de agora, onde atores e cenas, em flashback, se re-simbolizam em seu papel. Quase são dramas com marcas, sem traumas, porém. Não o tributo cobrado por um retornado, após seu êxito “lá fora”. Frota é dos que daqui se foi mas que, aqui, deixou-se ficar. Que viu o mundo – Ipueiras – mas, de sua aldeia, fez sinédoque do mundo. Isso, porque continuou sempre o “Antonio do seu Idálio”, a nos tratar pelo apelido de infância. “Seu Idálio”, o pai, que, no cotidiano de sua farmácia, é personagem-tema à espera de um “romanço”. Para Frota, quase pode ser o desculpar-se pelo inconcluso. No caso, porém, é advérbio que se tornou substantivo próprio, signo do coletivo maior. E, na leitura de muitos personagens-leitores, “o épico de uma época”. Porque não? A arte, afinal, faz-se da sugestão e do inconcluso: atingindo sua plenitude, no Quase! (em O Povo sob o título “O épico de uma época: Quase! – 09.02.2000).

De Luiz Lanzetta, Jornalista:

(...) A Macambira de Frota Neto pode ser Ipueiras, uma cidadeizinha do interior do Ceará, onde nasceram o escritor Gerardo Mello mourão, e, em 1942, o próprio Frota Neto. É por ali que se movimenta um idealista cheio de projetos políticos irrealizados. Como pano de fundo, o Brasil dos últimos 30 anos. O personagem se enreda com os novos tempos. É um anti-herói. Não tem nada de autobiográfico. (em O Globo – 13.08.1987).

Do Diário do Nordeste – Caderno 3 – Literatura:

Sob o título “Notas de um viajante”, o jornal Diário do Nordeste publicou: Em "Deu tudo certo", novo livro do escritor e jornalista cearense Frota Neto, autor reúne contos marcados pela densidade e pela melancolia - Estes nossos atuais dias chuvosos em Fortaleza parecem saídos de um conto de "Deu tudo certo", novo livro de Frota Neto, jornalista veterano e ficcionista nascido em Ipueiras. O mesmo clima melancólico e úmido se instaura na maior parte das 33 histórias reunidas no pequeno volume (a despeito do título aparentemente otimista). Ora com mais melancolia, ora com aquela tristeza branda e difusa que não se sabe bem de onde vem. Esta sensação é, aliás, um dos fios que atam as histórias, conferindo-lhe certa unidade - não parece de interesse do escritor que as histórias estejam demasiado atadas umas às outras, como que para dar-lhes exatamente a independência de serem lidas de maneira isolada e até mesmo fora de ordem. Na obra ficção de Frota Neto (o autor é também ensaísta), "Deu tudo certo" é o sucessor de "Raízes na Amazônia", romance publicado em 2006 pela mesma editora - a tradicional Livraria Francisco Alves. De um livro ao outro, o escritor operou um deslocamento, cuja primeira manifestação é a troca de um gênero por outro. O romance tinha algo de monolítico, número limitado de cenários e uma história que imitava o embrenhar-se na mata (do Norte do País). Neste, a selva por onde se aventuram os personagens é a cidade grande, a metrópole, que tem suas "sucursais" por toda parte do mundo. Incluindo nossa ora chuvosa aldeia. Finitude - Outra distinção possível é a de que o escritor se valeu de muitos fragmentos para construir uma história coesa - mitos, causos, lembranças e invenções foram as matérias-primas de "Raízes na Amazônia". Em "Deu tudo certo", o autor parece ter procedido de forma inversa - como se ele despedaçasse uma massa compacta de preocupações e questionamentos. Frota Neto adota uma ideia de conto que não se prende à ação - pelo menos não de forma cronológica. "Em busca do tudo certo" é exemplo disso. Ali se vê o homem adúltero que flerta com várias mulheres e o drama de uma delas, que engravida. O conto, no entanto, é escrito como uma espécie de digressão, como um comentário às circunstâncias. Daí se entrevê a história mínima - sintetizada neste parágrafo; o que mostra que o autor está bem mais interessado nas entrelinhas, naquilo que está no limite do que pode e do que não pode ser dito. O mesmo mutismo se faz presente em "Porque depositar. E depois, para Quem?", conto que abre o livro. Nele, um homem rico chega à Suíça para depositar uma fortuna que lhe pertence. Ao seu lado, o assombro de ter descoberto num exame médico que lhe resta pouco tempo de vida. A pergunta do título paira sobre a história, enquanto o personagem sofre em seu mudo desespero por não saber a resposta. As histórias do livro são, em geral, densas e tensas. Talvez por isto o autor as tenha feito breves, para que pesem em demasia ao leitor. Método de conferir leveza, neste caso, é a opção pelo fragmento, nas muitas histórias; internamente, já que os contos costumam ser compostos por períodos menores; e na própria linguagem do escritor, que organiza as palavras dentro da frase de maneira própria. Foge do óbvio e, assim, sugere ao leitor um ritmo de leitura, um pouco mais lento, que combina com a melancolia que embebe suas histórias. Em processo - "Deu tudo certo" apareceu antes de outro projeto de Frota Neto. Quando lançou seu último romance, o escritor revelou que estava trabalhando em outra história longa. A inspiração é um livro que o marcou, ainda na juventude: "Os Buddenbrooks" (1901), do alemão Thomas Mann (1875-1955). O romance de Mann é a longa saga de três gerações de uma mesma família. No livro que planeja escrever, o cearense também contará a história de uma família (...). A família chega ao Brasil antes do Descobrimento, adentrando o território inexplorado por um rio paraibano, instalando-se na Serra da Ibiapaba. (No Diário do Nordeste - 29.03.2010).

De João Soares Neto, Escritor e Empresário:

Cheguei cedo e tive tempo de trocar algumas palavras com ele. Leve. Adocicado pelo tempo, retemperado pelas dores da vida e com o olhar de vaga mundo que se auto exilou para ter o distanciamento crítico. E voltar ou quase. (...) Postei-me no eqüidistante e pude acompanhar a nuvem de gente que chegava. (...) Via-se de tudo, desde o jornalista com e sem jornal, ao político com e sem mandato, o empresário com e sem empresa, os que contam e os que não, os que pensam, os que registram, os que fofocam, os colunáveis, os emergentes de todas as castas e quase todos poucos ligavam quanto tempo esperariam pelo autógrafo absolutamente personalizado e carinhoso. (...) Foi aí que me veio à memória que eu e o autor festejado, fomos sempre quase. Éramos meros João e Antonio, simples netos ou neto simples. Quase companheiros de jornalismo em eras de 60, quase colegas da mesma faculdade, quase ensinamos juntos e quase fomos bons amigos. E nessa condição de quase é que estou aqui para dizer quase nada. Direi apenas que minha memória visual penetrou na sala da Vila Angel ita e se permitiu criar mais asas: vi chegar à redação e pegar um paletó emprestado para ir à Assembléia. Tomar um avião para Cuba, dar prego no meio de uma estrada, transformar sonhos de uma mera jangada em frota de desejos, mudar para Brasília, desfazer-se de parte do passado – como se isso fora possível – e tornar-se alado para pousar agora com asas cansadas por tantas estranjas e encher de luzes as coisas que remexem a memória e azucrinam o coração, pois dão aquela arritmia que nos impõe a escrever sem a preocupação do memorialista, mas dos que ainda imaginam ter o direito de falar. Pois como bem disse a citada Susan Cheever: “O passado é um lugar perigoso”. Ou quase... (no Diário do Nordeste, escrevendo sobre o lançamento do Quase... em Fortaleza– 06.02.2000).

De Blanchard Girão, Escritor e Jornalista:

“It´s all true”. Orson Welles? Não. Frota Neto. Não somente quase, como sugere o título do seu novo livro. É tudo verdade mesmo. Pelo menos no antológico trecho em que narra, com a minudência própria de um repórter atento, o que aconteceu por cá no turbilhão que atingiu o Brasil nos idos de 64. “Aurorava”, como diria o Mia Couto, quando eles chegaram ao 102 da Senador Pompeu. O 102 era o endereço da despreocupada e feliz adolescência de Frota, bem no centro da cidade, abrigo de fim de noite (e de noitadas) de gente parece que saída das páginas de “Boêmios Errantes”, de John Steinbeck. Gervásio de Paula, emblemática figura rabelaisiana, ainda tentou um gesto de defesa. Valeu como símbolo de resistência. Levaram o menino repórter na brutalidade própria daqueles dias e o atiraram a uma prisão sórdida – Motivo? Por que motivo? Não era preciso. Bastava a simples suspeição, ou antipatia pessoal, quando não a denúncia mesquinha de um vagabundo qualquer. E como floresceram vagabundos naquele tempo! O livro Quase trafega pelos serões do “Salão” de Dona Chiquita Gurgel, pelo restaurante do Náutico, pelos bancos da Praça do Ferreira e cabarés de suas imediações. Vire e mexe, mas está quase constantemente nos bastidores da política cearense. Ali vive e respira política, com esperteza bastante para não se deixar envolver pelos interesses embutidos dos senhores deputados, o repórter Frota Neto com seu caderno de anotações. Tudo sabe, mas nem tudo revela, porque sentia que algumas informações não correspondiam à verdade dos fatos. Era um menino atilado, embora a timidez acentuada no seminário de Petrópolis, somada às origens puras de sua distante e pequena Ipueiras. Não me proponho a fazer uma crítica do novo trabalho do Frotinha, bom danado de ler. Mas posso garantir que ali está retratado um vasto capítulo da História do Ceará. Do Brasil, talvez do mundo, pois Frota neto, como Dilcimar Oliveira e Inácio de Almeida, descobriu um jeito de derrubar as fronteiras do mundo muitos anos antes da Internet. Nada de virtual. Foi ao vivo mesmo. Curtindo frio e até fome pelas ruas de Paris, de Praga, de tantas outras cidades da Europa. Foi também ver de perto o que plantara, em seus primórdios, a revolução dos barbudos de Fidel, de Che, de Raul e Camilo Cienfuegos. Chegou lá, e correu a Ilha toda, poucos dias após o episódio da Baía de Los Cochinos, quando os revolucionários cubanos repeliram com valentia a invasão preparada , financiada e treinada pela CIA. Por acaso fora esse o “crime” pelo qual teria de expiar em 64?... Talvez. A História, segundo Frota Neto, está nas páginas deste excelente Quase, mais um lançamento da vitoriosa editora ABC de Maurício Xerez. Permitam-me repetir o adjetivo usado no princípio destas linhas: antológico. Vou transcrever, sem mudar uma vírgula, esse trecho do livro de Frota, encontrado na página 181: “Fui um dos que constam, entre centenas de brasileiros, desse IPM sinistro (o dele era chefiado pelo coronel Ferdinando de Carvalho). Cada Estado tendo seu braço armado como santa Inquisição, o Papa nem sempre controlando quem agindo em seu nome. Mas se sabendo que o Papa jamais, nunca, nunquinha iria erguer o braço para conter ou para desviar o golpe que um dos seus representantes intentasse, desse”. Era a regra, na "lei e na ordem” das selvas. Este parágrafo vale para desmistificar o Sr. Humberto Castelo branco, o “Papa” de que fala Frota, tido e proclamado como “democrata”. Gaiatice. Alongo-me, mas não posso deixar de trazer também ao conhecimento dos que ainda não leram Quase este outro trecho: “ Ninguém pode esquecer. Não se deve esquecer detalhe algum que possa ser lembrado, marcado, registrado. Esquecer pode ser mais uma forma de perdão do imperdoável. Não apenas pessoas, gente individualizada, gerações foram anuladas, emasculadas, esmagadas na construção do futuro de cada um. Na participação coletiva e individual". E este fecho lapidar: “Pelo princípio da liberdade, se detratou, se prendeu, se destruiu, se matou”. Verdade. É tudo rigorosamente verdade. (em O Estado – 16.02.2000).

Jornalista José Roberto – Jornal de Brasília (JBr): O NOVO LIVRO DE FROTA NETO: O JORNALISTA & O PODER


A liberdade de imprensa, após 21 anos de autoritarismo e silêncio, foi restaurada, na prática, em abril de 1985 quando os/as jornalistas saíram da ignominiosa calçada do Palácio do Planalto e pisaram dentro da sede do Poder, então como cidadãos e não mais como reféns. Recuperava-se o direito de questionar, criticar e confrontar a grande esfinge governamental, através da  imprensa livre.
Sucessor de Tancredo por direito e pela mão torta do destino, Sarney levou ao Palácio, naturalmente, sua equipe de imprensa. Inicialmente, Fernando Cesar Mesquita que peitou a “abertura dos portos” e, depois que este se retirou para outras funções, o jornalista Frota Neto, em janeiro de 1987. Uma diferença histórica entre ouvir o “corta voz” dos militares ditando informações no “portão” e dezenas de profissionais credenciados “dentro de casa”, no Comitê de Imprensa Tancredo Neves.
Cortês por natureza e democrata por convicção, Frota Neto inaugurou uma prática de relações democráticas Imprensa e Poder que, dificilmente, ainda hoje, o espírito stalinista contraventor de certas alas do governo lulopetista conseguirá reverter.
Nesta última 2.ª feira, em recepção organizada pela jornalista Edit Silva no Espaço Cultural Ecco, aqui em Brasília, Frota desembarcou do exílio dourado em Berna-Suíça para abraçar mais de uma centena de convidados jornalistas/amigos e entregar-lhes o livro “O Jornalista & o Poder” (Ed. Rígel). Entre eles, Luiz Fernando  Beskow e o queridissimo e hoje octogenário José Henrique Nazaré, o “Very Well”, ícone do servidor público palaciano migrado do Rio para Brasília.
Seu livro preenche lacuna na historiografia política da redemocratização. E narra eventos relevantes, como sua entrevista ao Estadão onde “rasga o verbo” sobre as relações tensas entre o presidente Sarney e o “condestável” da República Ulisses Guimarães. Ou tragicômicos, como a disputa entre o ministro da Justiça, Paulo Brossard e “Frotinha” pela hegemonia na antiga EBN. O gaúcho subestimou o rijo cearense de Ipueiras. (Jornal de Brasília – JBr - Brasília – DF, domingo 14 novembro 2010)

Mayara de Araújo -  Especial para o Caderno 3:  LANÇAMENTO  - Poder, jornalismo e democracia

O cearense Frota Neto debate poder e liberdade de imprensa durante a transição para a democracia nacional, em 1985
Jornalista e escritor cearense Frota Neto lança livro sobre as relações envolvendo a notícia, o veículo e o profissional entre o fim da ditadura e o início da democracia

Novo título de Frota Neto, "O jornalista & o poder - uma das facetas dos conflitos e das intrigas da transição para a democracia no Brasil", faz uma relação direta com momentos históricos cruciais da vida do autor.

Frota aborda a atuação de uma imprensa anterior à internet e a reconstrução do jornalismo brasileiro após a ditadura militar com a autoridade de quem foi nomeado secretário de imprensa da Presidência da República no Governo Sarney. Mais que isso, debate as relações entre a notícia, o veículo e o jornalista com a autonomia do garoto de Ipueiras que entrou no universo dos jornais exatamente no dia em que Jânio Quadros renunciou à Presidência.

Durante os seis capítulos do livro, escrito como se há 20 anos, o autor recapitula as instituições jornalísticas nas quais trabalhou, utilizando-as como mote para apresentar debates éticos, políticos e sociais acerca do fazer jornalístico em um período tão incerto da história nacional.

Frota Neto
O Jornalista & o poder
Editora Rigel
2010
256 páginas
R$ 39
(Diário do Nordeste - 07.12.2010)

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